Por que será que nos sentimos tão ofendidos quando vem à tona um comentário como o do jogador francês Tierry Henry, que disse que ele tinha que ir à escola das 7h às 17h e só depois poderia jogar futebol se sua mãe deixasse, enquanto o brasileiro não vai à escola para jogar futebol das 8h às 18h.
Certa vez um jornal europeu (francês, se não me engano) publicou que o Brasil era um país de excelente futebol, luxuoso carnaval e belíssimas prostitutas. Foi aquele alvoroço. Indignação geral do povo brasileiro. Não sei o por quê.
Tudo o que o Brasil mostra é isso: mulher, futebol e samba. Somos conhecidos (até por nós mesmos) assim.
Temos os melhores jogadores de futebol e, salvo raras exceções, saíram de favelas ou comunidades pobres e, como a gente sabe o acesso à educação nessas comunidades é muito difícil. O que resulta no comentário do Henry.
Nosso maior orgulho é o nosso carnaval e não as nossas raríssimas pesquisas como eu gostaria. Não é engraçado, ou trágico, um carnaval tão luxuoso e nossos pesquisadores sem verba. O que a gente vê no carnaval além de pessoas com trajes sumários (quando há trajes)?
Isso, a nossa exportação de sexo e o turismo sexual que ocorre tão livremente no nosso país contribuem para a imagem do país de belíssimas prostitutas.
Sempre que vejo a indignação nacional por tais comentários me pergunto: não foi isso que a gente plantou?
A falta de investimento em educação é explícita e ninguém se importa, mas se não houver carnaval é provável que vejamos a revolução brasileira.
Eu sei que às vezes a verdade dói, mas chega de hipocrisia: ou saímos às ruas pedindo educação, saúde e segurança de qualidade (como na maior parte da Europa) ou saímos pra pular carnaval e paramos de nos importar em ser chamados de “país de burros que jogam bola bem” ou “país de prostitutas dançantes”.